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quinta-feira, fevereiro 08, 2007 

Fim da sondagem sobre aborto

A votação do blog para o referendo do aborto terminou há momentos. Os resultados finais podem ser encontrados aqui e os 122 comentários realizados pelos nossos leitores neste período aqui. Obrigado pela participação.


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Agora digam que sim, depois vão chorar e aí vai ser tarde pra mudar a Lei, não confundam despenalização das mulheres que fazem aborto com liberalização do aborto...
Votem Não - X

Bem, já vim tarde para meter a minha opinião sobre este assunto, até porque a sondagem já acabou... Mas aqui segue o que penso:

O simples facto de ter de haver um referendo é já de si um erro. Ninguém perguntou ao povo o que pensava quando a lei de 1984 foi promulgada. Uma sociedade perfeita é como uma canoa em que todos remam no mesmo sentido, e a enorme divisão em que a sociedade portuguesa caiu com este assunto é a melhor amostra de que estamos demasiado longe da perfeição. E como em 1998 estávamos todos muito ocupados com a Expo, ninguém aprendeu a lição... e o erro repete-se dia 11. Quem o povo elegeu é que tem o dever e a obrigação de fazer os estudos e tomar as decisões a respeito dos destinos de quem os colocou no poder, até porque todos os instrumentos possíveis para ajudar à tomada de decisão estão ao dispôr deste a quem chamamos Governo, ou não será assim?

Mas já que o mal está feito, vamos ao que interessa:

Comecemos pela definição de "vida". Para quê bater na mesma tecla sobre se é às 10 semanas, ou ás 20 semanas ou quando nasce? Que eu saiba, enquanto homem possuo dentro de mim vários milhões de pequenos entes que nascem com a função de "nadar em grupo" em busca de um alvo e, uma vez encontrado esse alvo, tentar encontrar a forma de se unir a ele para então se processar a divisão e multiplicação celular que dá origem ao futuro ser humano... "By The Way", chamam-se "espermatozóides". Uma mulher por seu turno, produz mensalmente o tal "alvo", cuja função é sentar-se tranquilamente à espera que surja a onda de espermatozóides, para então escolher qual é aquele que vai deixar entrar. Já agora, o seu nome é "óvulo".
Ora bem, isto para mim parece-me bem vivo. 2 entidades com forma, conteúdo e função específica. Ou vêm cá dizer que os unicelulares não são seres vivos? Na minha opinião como homem e ser pensante, "vida" já é isso mesmo. Eu acho que espermatozóides e óvulos já são vida, 2 vidas que conjugadas irão dar lugar à nova vida, mais complexa, que será um novo ser humano. Mas sendo assim, quem realmente tem razão é a Igreja. Quando eu uso preservativo, quando a minha parceira usa a pílula, o diafragma, o DIU, quando se usam espermicidas (que até se diz que MATAM os espermatozóides) ou até quando simplesmente eu ejaculo para o ar (á laia de filme porno), já estarei(emos) a ir contra o curso natural da vida, ao impedir que os "seres vivos" espermatozóides e óvulos se possam encontrar para desempenhar as suas funções. Por isso, os que dizem defender a vida, deviam então ser contra qualquer tipo de contraceptivo... Mas nem mesmo os adeptos do "Não" concordam com o Papa quando ele diz que o preservativo é condenável, mas o que é certo é que ele o diz! Este polémico Papa que temos hoje, o Benedicto, ou Bento XVI di-lo hoje, e o nosso tão adorado João Paulo II também o disse no seu tempo. As sociedades cristãs simplesmente agiram numa atitude do género "é pena que ele diga essa coisa porque fora isso, é um Papa adorável!" Portanto, a vida não está só no feto quando o coração bate ou ele dá pontapés...

Fazemos parte de uma humanidade que iniciou a sua expansão assente naquilo que hoje é considerado pecado, o incesto. Se usarmos Adão e Eva como os primeiros seres humanos, facilmente se conclui que os seus filhos enveredaram por um gigantesco "rega-bofe" entre eles para gerar descendência. Isso prova que não temos sequer moral, desde os tempos em que calças de ganga vinham do espaço! Ninguém tem razão. A verdade absoluta só Deus a possui... Fomo-nos multiplicando até começarem a surgir as sociedades e com elas vieram os primeiros problemas de excesso de população, seres humanos mal formados fisica e sociológicamente. Algures nessa época se pensou que fazer sexo sem que as mulheres ficassem de barriga inchada e com 9 meses de baixa podia ser boa idéia. Lá se pensou em contracepção. Mas antes disso estou quase certo que quem não queria que aparecesse um bebé naquela altura, bastar-lhe-ia agarrar na grávida em questão e dar-lhe umas bastonadas na barriga. Arrepio-me só de pensar nisso! Ainda bem que existe a evolução. Ainda bem que o Homem criou ciências como a Medicina para ajudar certas decisões a serem tomadas e levadas a cabo com o mínimo de danos, desde que sejam dadas condições para isso.

Sociedade, meus amigos... Sociedade.

Somos tão, mas tão diferentes uns dos outros. Desde países onde se incentivam as pessoas a terem filhos, não sendo o mesmo capaz de aguentar tamanha demografia, até países onde se escolhia o sexo dos filhos da maneira mais brutal possível (se era macho vivia, se era fêmea matava-se). Sim, dou como exemplos a Roménia e a China. Mas há mais... e está na altura de me concentrar neste pequeno país onde vivo.

Eu defendo a vida, mas a vida com qualidade. Quem não acha que é bonito uma família com 2 filhos, de preferência casalinho? Com uma grande casa com quartos para cada um? Um carro desportivo e um descapotável para o pai e a mãe, e um monovolume de 7 lugares para os passeios em família, como a publicidade tanto estereotipa? Eu acho. Também gostava. Mas como em Portugal, para se ter uma vida assim hoje em dia não se consegue trabalhando, sou obrigado a cair na realidade.

Tudo isto sobre o aborto é uma questão de consciência e de sociedade. Há pessoas que não têm condições para ter filhos, e têm-nos à mesma. Seja por falta de meios de subsistência, seja por falta de competência moral e sentimental. O que mais me irrita nisto tudo é que em Portugal são esses os que têm mais filhos! Cada vez são mais as crianças que vivem em bairros degradados. Cada vez são mais as crianças que passam o tempo na rua enquanto os pais vão trabalhar, sujeitando-se às mais variadas más influências... A esses pais ninguém julga? Ninguém criminaliza? Claro que não! Só quando aparece algum recém nascido num contentor do lixo ou a ser retirado de um rio como eu vi pessoalmente há já 14 anos atrás, é que se lembram que esse tipo de gentalha existe! Ou quando aparecem casos como o da Joana, cujo cadáver simplesmente não aparece... ou outras crianças que acabam como brinquedo sexual dos próprios pais! Duvido muito que tenham sido crianças desejadas, não é por nada. Nascer para ISSO? Se se pudesse perguntar a uma criança nessa situação se teria escolhido nascer, ela quase de certeza diria que não.

Mas estes problemas não são exclusivamente dos pobres.

Cada vez são mais as pessoas "de bem" que têm filhos só porque acham que é bonito ter um bebé, esquecendo-se que esse bebé só dura 2 anos. Depois cresce, ganha vida própria, opinião, crença, vontades, coisas com as quais certos "pais" não estão preparados para se confrontarem. Mas o que é certo é que o filho apareceu, aturem-no! Pura teoria... há sempre as creches, onde o supostamente "nosso" filho acaba por ser educado por pessoas estranhas, uma vez que só vê os pais à noite, um pouco antes de ir para a cama. Há quase sempre os avós que tomam conta dele enquanto os pais se vão divertir, coisa que não poderiam se o tivessem de levar atrás... E depois ficamos tristes quando o vemos fazer birra por estar a ser tirado desse ambiente onde realmente se sente bem (creche ou casa dos avós). Depois estranhamos o nosso próprio filho não nos ver como autoridade, desobedecendo a torto e a direito, às vezes de forma provocadora. E perguntamo-nos "porquê"?
O futuro reserva a pessoas assim uma vida amargurada e cheia de remorsos, às vezes chegando-se a interrogar sobre porquê ter tido aquele filho... E o próprio filho não sentirá a alegria de ter tido uns pais capazes de o amar correctamente, e por amar entenda-se também educar. Tornar-se-á uma pessoa fria, sem escrúpulos e sem valores. Por talvez até ter tido uns pais ricos e ter tido uma data de presentes (oferecidos à laia do "brinca com isso e deixa-me em paz") poderá ser mais um daqueles que pisará seja quem for para atingir os seus objectivos. E por fim, terá filhos como ele próprio. Isso para mim não é vida com qualidade. Mas esses pais também não são julgados.

Há pessoas que têm consciência que não têm condições para terem filhos, e optam pelos métodos contraceptivos, uma vez que a abstinência sexual só dá cabo da saúde. O problema é que os preservativos às vezes rompem (eu próprio já senti isso na pele, uma vez até tive de fazer de ginecologista e com os dedos retirar o que restava dele de dentro da minha parceira!). As pílulas têm 99% de eficácia. OK, é muito, mas há pessoas para quem 1% é o suficiente... Há pessoas para quem o DIU é doloroso, enfim... não há contraceptivos rigorosamente eficazes. Podem entrar pelo caminho das cirurgias como a vasectomia ou laqueação de trompas, mas não raras vezes essas pessoas podem mudar de idéia e por algum motivo essa operação ter provocado algum factor de irreversibilidade. Em resumo, formas de evitar engravidar existem, mas o azar também! No meu caso particular, sou parte deste último grupo de pessoas. Sou casado, tenho 30 anos e consciência de que não tenho condição para ter filhos agora, todavia não descartando essa hipótese por completo. Para que conste, a minha mulher concorda comigo. Um filho agora seria a completa destruição de 3 vidas! A minha, a da mãe e a do próprio. Mas como não sou nem nunca fui uma pessoa de sorte, estou sujeito a que um futuro exame feito pela minha mulher revele um futuro sombrio. Ora a actual lei proíbe-me (e à minha mulher) de recorrer ao último recurso disponível, a IVG. Uma vez que tomava as minhas precauções para evitar isso e não o consegui, a lei actual obriga-me a assumir a minha falta de sorte! Não duvido que fosse amar o meu filho se ele tivesse mesmo de nascer, mas podendo evitá-lo (ou adiá-lo) porquê não o fazer? Sacrificar uma vida (não duvido nada que o seja, como disse no início deste post) para salvar 2 ainda assim me parece um saldo positivo. E como nós haverá mais gente nesta situação. Num mundo em que existe tanto mal, tanta gente infeliz, tanta morte e tanta violência, tanta falta de respeito pelo próximo e tanta leviandade, às vezes um aborto até pode ser um acto de misericórdia, digo eu...

Se o "Sim" ganhar, e eu espero que sim, não farei qualquer tipo de festa e censurarei duramente quem o faça! O ter de recorrer ao aborto é já de si um triste evento na vida de qualquer pessoa, seja mulher (por ser a principal interveniente), seja homem (desde que ame sinceramente e seja um verdadeiro cúmplice da mulher que se submeter a tal provação). Faço votos para que se acabe de uma vez por todas com o falso moralismo que caracteriza os movimentos pelo "Não", que se acabe com certas atitudes que foram tomadas nesta maldita campanha como a de usar crianças como instrumento de propaganda pelo "Não", ou meter folhetos anónimos com fotos de fetos mortos nos carros das pessoas, para que corram o risco de serem vistas pelos seus próprios filhos, como foi denunciado por outros leitores do Destak (aos quais eu cumprimento e apresento a minha solidariedade). Tamanha incoerência esta dos "defensores das criancinhas", acabando por sujeitá-las à violência de tomar contacto com imagens arrepiantes e até traumatizantes. O argumento de que é um erro usar o dinheiro do Estado, dos impostos e no fundo, de todos nós para finaciar clínicas de aborto por ser caro e um esforço financeiro para o País, é mais um exemplo de leviandade de quem devia era estar calado. Se quisermos entrar na frieza de números então pensemos nisto: Quanto custa a todos nós o financiamento dos orfanatos, das Casas Pias, da APAV (no que toca às crianças vítimas) e até das prisões que estão cheias de gente que se calhar veio ao mundo como criança indesejada, com as consequencias que isso acarreta??? É melhor lembrarem-se disso antes de fazer contas, porque o resultado pode ser decepcionante.
Só por isso (e por outros factores não mencionados), o "Não" merece a derrota. Pesada!

Quanto à Igreja, salvo algumas consciências manifestadas no padre defensor do "Sim" e do casamento entre padres (também acho), está na hora de, ou enfrentar a realidade como ela é, ou então ficar caladinha na insignificância em que está a cair ao longo dos tempos. A Inquisição já lá vai e até foi perdoada pela humanidade. Agora não venham condenar a tentativa de evitar que nascam crianças que ninguém quer, quando alguns dos vossos "colegas" estão na prisão por se aproveitarem sexualmente de crianças que não puderam ser "evitadas", e acabaram por ser atiradas às garras desses predadores (na forma de instituições tipo Casa do Gaiato ou centros de acolhimento paroquial), porque não tiveram outra hipótese senão nascer para uma vida, claro está, sem qualidade. Atirem as pedras à vontade, mas é melhor usarem capacete, porque Deus é mesmo grande e não se sabe as voltas que as pedras poderão dar...

Com a vitória do "Sim", não irá acabar o aborto clandestino. Lamento que alguns dos "deste lado" só tenham batido nessa tecla. Não irão acabar as crianças nascidas para a miserabilidade, porque haverá sempre pais que nunca o deveriam ser. Se se pudessem identificar essas pessoas e ESTERILIZÁ-LAS antes de porem mais uma criança face a uma vida dessas... Estarei eu a ser leviano agora? Penso que sim. Também tenho esse direito.

Mas se àquelas pessoas que têm a consciencia que referi atrás o "Sim" ajudar, nem que sejam só meia dúzia, penso que já terá valido a pena mudar a lei. Quanto ao tempo de 10 semanas, é muito variável. Normalmente quando não se quer filhos, optar-se-á imediatamente pela interrupção assim que se tiver a certeza que a mulher está grávida. Ainda assim há mulheres que só têm certeza disso já com 3 meses (ou mais) de gestação. Para essas, é sempre tarde demais.

Sim, sem dúvida alguma. E ainda por cima não estarei no país dia 11 por motivos laborais. Triste é a vida de quem não tem emprego de escritório...

Amor, saúde e sorte para todos.

Miguel Silva, 30 anos, Almada, motorista de autocarros de linha internacional.

*Só para não se pensar que este anonimato é propositado.

NEM MAIS UMA MULHER PARA A PRISÃO POR FAZER UM ABORTO!!!!!!!!!!!!!!!

O CORPO DAS MULHERES, àS MULHERES PERTENCE!!!!

VOTEM SIM, PARA ACABAR COM A HIPOCRISIA!!!!!!!

É importante Votar SIM para acabar com os julgamentos e prisões das mulheres que recorreram à IVG, e para acabar com o aborto clandestino, sinónimo de sofrimento e morte. Também para acabar com esta mentalidade mesquinha, que mesmo em situações previstas na actual lei, de risco de vida para a mulher, os senhores donos da ética e da moral perdem-se em discussões teóricas acerca do começo da vida e do seu significado, em infindáveis comissões de ética, acabando por condenar a vida de um ser humano, a mulher em risco de vida, com pouco tempo para viver e acabando por sucumbir às teorias dos grandes defensores da vida, como já vieram a público alguns casos, último: a mulher com melanoma que aguardava a decisão da comissão de ética do IPO e que acabou por falecer, vítima de aborto clandestino. No entanto, os grandes defensores da «vida», ainda afirmam que a solução para os casos graves se encontra na actual lei, porém essa lei impede de actuar atempadamente mesmo nos casos muito graves.
Por fim, chegou o golpe mais baixo da campanha do NÃO, alguns ardilosos, vestiram a pele de cordeiro do bom lobo samaritano preocupado com as mulheres, sugerindo o milagre de se despenalizar sem mudar a lei. Assim, toda a gente poderia votar no NÃO à vontade, que nenhuma mulher será presa, a lei fica lá para enfeitar o código penal. Só não dizem é que ao manter a lei, depois de alguns anos de poeira nos olhos, apanham-se, de novo no poder e inicia a caça às bruxas, fazendo cumprir a dita lei. Espero que esta ardilosa armadilha não apanhe muitos ingénuos nas suas malhas.
Senão será um passo atrás na democracia, na vida e no progresso.
Votemos SIM para bem de todos.

Ana Matos
Médica

Como é possível?? Razão tem o tubarão no comentário que faz! http:\\quemeotubarao.blogspot.com

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