Comentário a artigo "O teatro dos enfermeiros"
Não podemos deixar de demonstrar a nossa indignição perante a opinião "O teatro dos enfermeiros" (5/12) e perante a publicação desta num jornal lido por inúmeros cidadãos.

1º todos os profissionais têm direito a recorrer a greves quando descontentes com condições laborais;

2º "basearam-se injusta e abusivamente nos factores psicológicos e físicos" - a prática de enfermagem exige a mobilização constante de capacidades/competências psicológias e físicas em condições, frequentemente, de extremo sofrimento humano e dependência total ou parcial por parte de terceiros, o que afecta o próprio enfermeiro, tendo a sua postura/intervenção impacto no doente/família.

3º Para garantir a qualidade dos cuidados a formação é essencial. Se numa fase inicial a formação exige investimento (em todo o tipo de formação, nas mais variadas áreas do saber), no futuro tem-se os ganhos, que neste caso são ganhos de saúde. Tem-se, por exemplo, que bons cuidados de enfermagem diminuem o tempo de internamento, nº de reinternamentos, prevenção de
complicações, entre outros - dados comprovados estatísticamente e com outros trabalhos de investigação realizados.

4º Sob que óptica o leitor avalia as competências dos enfermeiros? Que critérios? Generalização? Em que se baseou?

5º Questionamos... Que tipo de enfermeiros o leitor em causa quer que um dia cuide dele? Nas 24h, sobre 24h, com reduzido número de enfermeiros para o racio de doentes, quererá alguém com formação técnico-científica e relacional, ou apenas um autómato que procede sem saber o porquê e como actuar face às intercorrências? Este tipo de competências são adquiridas
através da formação inicial e contínua, e na prática profissional.

6º Face à complexidade dos cuidados de enfermagem e os conhecimentos em que se baseiam (que exigem actualização permanente), bem como as condições de trabalho, como se poderá prestar cuidados com qualidade ao 60, 65 anos?

Rita e Vera, Lisboa