O mundo é composto pela humanização (in)existente do ser humano, na qual essa mesma existência se reproduz por relações interpessoais. O desenvolvimento da massa cerebral permitiu ao Homem lançar-se numa espiritualização divina, prometendo a si próprio o elixir da vida ao longo dos milénios de existência. Tal facto, produziu um egoísmo subsequente enquanto a velhice e a solidão não nos atinge, abjurando a certeza de que temos um termo. Tanto “aqui” como “do outro lado do espelho”, o tempo consome-nos, resta-nos apenas saber aproveita-lo. Mesmo sendo em benefício próprio, a busca de uma relação interpessoal, traz ao Homem uma imortalidade na acção, uma vivência mais digna e ajustada ao ter consciência de que somos um "ser para a morte". A negligência é de uma força tão jovial perante uma vetustez, que a solidão se torna trivial numa sociedade composta pela ordem do estado politico do “aqui e o agora”. Não é de admirar. “A solidão é muito bela… quando se tem alguém a quem o dizer” (Gustavo Becquer).

É a pura e triste realidadeque os nossos idosos são negligenciados. A fúria do dia-a-dia que não nos deixa tempo para pensar, a luta quotidiana para o bem- estar dos nossos mais pequenos, para o seu futuro, que tão pouco nos recordamos dos que já labutaram como nós, para um mesmo futuro e vida melhor. Bem hajam todos aqueles que se preocupam com os mais velhos, porque neles assenta a essência da humanidade.

Quando a pessoa opta por viver sozinha, decerto que vai viver e gostar da solidão a que possa estar sujeita. Mas o caso muda de figura quando as pessoas se vêm sozinhas e abandonadas pelos outros. É o caso de muitos idosos abandonados e lançados em lares sem as mínimas condições humanas e afectivas. Aqueles para quem sempre dedicaram uma vida de esforço e sacrifício, resolveram retirá-los das suas vidas. É triste ser idoso em Portugal…É muito doloroso ser abandonado e negligenciado, como se de lixo se tratasse. Samuel Fernandes-Lisboa